domingo, 30 de janeiro de 2011

Nas águas da pureza.

Estava eu sentada na cadeira de palha, olhando levemente para a casa de madeira, os anúncios de cerveja e as pessoas de forma rústica andando de um lado para o outro.
Fiquei aguardando, a garrafa de cerveja levemente vazia  em contato com a luz refletindo um dourado fascinante e estranho na mesa de plástico branco.
Homens com chapeis  de palha, mulheres com roupas pequenas rebolando para todos os lados, sentadas como eu, esperando.
Peço, mais uma cerveja, na verdade é a terceira da minha noite, pego na minha bolsa um maço de cigarros amassado e retiro com os dentes e sinto o gosto do fósforo quando acende, descendo pela minha garganta, com um sabor único e raro, na verdade minha parte favorita das tragadas.
Permaneço com minha bunda entre a cadeira, que sinceramente está perto de cair, meu corpo muito magro além de mal alimentado é necessário para minha profissão, sou uma secretaria de certa forma especial.
Fico ali observando, até que um homem senta na minha mesa, faz alguns cochichos , o cabelo com gel, sorriso encantador, cabelos muito pretos, extremamente alto e super simpático.
Anoto em um guardanapo um número, ele me observa e toda aquela postura de titã desaba em palavras, parece tão culto, tão sensível que vi em seus olhos o reflexo de sua tristeza.
Ele falou que um grande amigo disse assim:

" Para que atrair pessoas iluminadas?
 Preciso atrair pessoas que precisam da luz, para ajudá-las".

Isso foi de um profundo momento de reflexão, mas preciso comprar mais cigarro e cervejas, falo algo desaforado para o homem que está entregue as bebidas fortes, porque disse que perdeu um grande amor que nunca existiu.
Levanto-me, saio do bar, pego o ônibus e sigo para lá, meu segundo lar, o lugar onde gosto de estar a terra de chão batido, as casas de madeira, com pregos enferrujados, pessoas  com roupas surradas e o rosto estampado indiferença.
A paisagem mudou, os prédios, muitos prédios, desço tão de repente em uma parada dentro da cidade, na mesma parada no centro pego outro ônibus em direção a zona norte, desço lá no valão.
Baixo minha blusa levemente, bebo mais, muito mais  para aguentar o frio da noite, e fico esperando, minha vida é uma eterna espera, passa um carro o qual entro, e ali mesmo faço o meu trabalho, recebo minha mixaria, compro mais cervejas e cigarros e retorno para casa que é dentro das águas sujas do valão.